15 de jul. de 2007

PCdoB decide romper com a CUT e o PT (Blog do Dirceu)

Uma leitura atenta da matéria "PC do B encerra casamento eleitoral com o PT", na página 13 do Globo de hoje (só para assinantes), revela que o seu título não expressa a extensão da decisão adotada pelo PC do B, apesar do presidente do partido, Renato Rabelo, deixar claro que o rompimento com o PT e com a CUT não envolve qualquer "estremecimento" com o governo Lula. Para justificar o rompimento eleitoral, Renato Rabelo, alega que a CUT está aparelhada pela Articulação Sindical do PT e que o PT prioriza o PMDB para a sustentação do governo Lula. Ou seja, os comunistas vão deixar de priorizar as alianças eleitorais com o PT, o que num sistema de dois turnos e com a possibilidade de proibição de coligação proporcional, não quer dizer muita coisa. O presidente do PCdoB admite na matéria que esse caminho poderá trazer prejuízos eleitores ao partido e torná-lo menor ainda do que é hoje, quando concorreu em coligações com o PT. É só verificar o resultado das últimas eleições quando, apesar de toda campanha midiática feita contra o PT, além de reeleger Lula, o PT foi o partido mais votado para a Câmara dos Deputados, elegeu 5 governadores, e mesmo não tendo um resultado bom para o Senado, tem 12 senadores. Já o PC do B foi muito mal votado e elegeu apenas 12 deputados, a maioria em coligações com o PT, e um senador, com total apoio do PT, sem o que não teria sido eleito.

O problema então é outro. É a falta de confiança política, de uma coalizão política entre os três partidos de esquerda, de um programa comum entre os partidos que deveriam ser o núcleo de esquerda do governo Lula. Já que com relação à participação no governo Lula ,tanto o PSB como o PC do B e mesmo o PT têm suas insatisfações e reclamam por espaço político. Mas, se analisarmos os cargos ocupados pelo PC do B, vamos ver que a legenda está devidamente representada.

O PC do B tem todo direito de escolher o caminho de rompimento com a CUT e de não priorizar alianças eleitorais com o PT. Mas a verdade é que essa decisão enfraquece ou quase impossibilita a aliança para 2010 e coloca, pelo PC do B, como inevitável a candidatura Ciro Gomes, contraposta ao PT que, todos sabemos que para vencer, terá de contar com o apoio do PT e de Lula. Isso sem falar na fragilidade do bloquinho PSB, PC do B, PDT, PMN, PHS e PRB, tanto para alianças eleitorais, já que predominarão os interesses locais e regionais, como para uma candidatura à Presidência da República.

Na verdade, o PC do B flerta com a política de apoiar o governo e fazer oposição à política econômica e disputar com o PT e a CUT. Uma decisão, no meu entender errada, e contrária aos interesses do próprio PC do B e da esquerda. Mesmo levando-se em conta os problemas surgidos com a disputa da Presidência da Câmara dos Deputados ou em eleições regionais da CUT como, na Bahia, onde os comunistas perderam para os petistas a direção regional da entidade.

Isso não basta para uma decisão tão radical e, muito menos, para o abandono das alianças eleitorais com o PT, onde o PC do B sempre foi favorecido, e muito, mesmo em detrimento de petistas. Tanto é assim que, muitas vezes, a direção nacional é que convenceu ou impôs a aliança com os comunistas. O PCdoB, hoje, não tem nada que o torne mais esquerda que o PT.

Fica então a pergunta: por que o PC do B tomou essa decisão? Não podemos aceitar que foi por causa da Presidência da Câmara ou da CUT regional, ou por mágoas e ressentimentos. Temo que seja, como já disse, uma fuga para o principal problema dos comunistas: a falta de votos.

Agora, o PC do B se apresentará para o eleitorado e para os trabalhadores com sua legenda e com sua Central Sindical. Mas isso não esconde o grave problema que temos enquanto esquerda: a ausência de um núcleo de esquerda para dar sustentação ao governo Lula, quando ele mais necessita e, pior, o risco de não existir esse bloco para disputar a sucessão de Lula.

As acusações de aparelhamento da CUT pela Articulação são ridículas. Basta olhar a situação da UNE e UBES, onde o PC do B exerce uma hegemonia ha décadas e, nem por isso, concordamos em criar outras entidades. Mas, se a moda pega e o PT decide criar outras entidades onde não tem hegemonia, e razões não faltam, estaríamos no pior dos mundos.

O mesmo vale para o outro argumento para justificar a criação do bloquinho: o hegemonismo do PT e sua relação com o Centro, ou seja, com o PMDB, que também soa ridícula, já que o PC do B sempre priorizou aliança com o PMDB. Na prática, nos primeiros 3 anos do Governo Lula, funcionou uma aliança não pública entre o PSB-PC do B- PMDB, e Aldo Rebelo só foi candidato e eleito presidente da Câmara pelo apoio de Renan Calheiros e do PMDB, além da anuência do PT e de seu apoio entusiasta em 2005.

O verdadeiro problema é que sem um bloco de esquerda com os quatro partidos - PT, PSB, PDT, PC do B, o ideal seria que o PV também participasse - a tendência natural é o PT e o presidente Lula terem que se apoiar no centro, no PMDB, PP, PTB, PR. Até porque para mudar essa política esses partidos precisam eleger 250 deputados e não os 140 que temos hoje.

Por tudo isso que tenho defendido uma reaproximação do PT com o PSB e o PC do B e uma repactuação de nossa aliança que vem desde 1989, com altos e baixos, a Frente Brasil Popular,e sua ampliação agora para o PDT e PV. Mas me curvo diante da realidade, a sucessão em 2010 e a decisão do PC do B.Só espero que ela não seja o prenúncio de uma dispersão da esquerda e possibilite a vitória de nossos adversários. Por fim, como diz o povo, espero que "Deus salve o Brasil", já que nós, mortais de esquerda, parece que estamos apostando na sorte e na fortuna.

Nenhum comentário: